Ela ia solta pelas ruas.
Uma noite vazia, uma noite sem nada.
Em uma das mãos a garrafa semi cheia...boa bebida... perdera o copo durante a caminhada solitária, em outra mão os sapatos... "como ficam belos em suas pernas" lembrou ela... mas, agora ela andava descalça... a esmo ... Mais um farto gole pra seguir sem destino ...
E ela ia solta pelas ruas...mal iluminada.. não sabia como havia parado ali , e a quem importa??Andava com seus passos trôpegos... para quê agora a elegância? Não há mais platéia... e ele, ele se foi .... ergue a garrafa ao céu e brinda: " a você Deus !! obrigada por tê-lo levado!!!" ...
Queria chorar ... cantarolava aquela canção... a mesma que quando o conheceu... naquela praça, naquela primavera, naquele ano, naquele dia... Fecha os olhos... sente-se meio tonta,é a bebida ... não é a morte... " " ah! que maravilha ir agora...."... ainda em pé, permanece com os olhos fechados... não querendo esquecê-lo ... abir os olhos... tudo rodava, tudo girava ...
E ela seguiu solta pelas ruas solitárias.... prá onde iria? Em qual braço ela choraria? Não pensava em ninguém ... obcecada só ele, ele, ele e ele... " Meu amado"...
Ao longe, mesmo sem que ela percebesse, seu amado amparava cada passo de sua amada, e guiava para casa.
Mesmo desencarnado... a energia de sua amada era muito densa... buscou auxilio ... a ideia do suicídio dela era muito forte e ele sofria por isso....
A cada gole que sua amada ingeria ele plasmava água, e pouco a pouco, ela foi sentando na beira da calçada e acalmando.
Ele ficou frente a ela... ela não o percebia.
Ele tocou o seu rosto, ela não sentiu.
Ele a abraçou, forte, e ela não sentiu ...
Sensibilizou com a aparência de sua amada. Não era ela, e podia ver de longe as nuvens negras prontas para apoderar dela...
Pouco a pouco ela foi se recobrando, e o tempo dele estava acabando, precisava partir , mas, antes, deixá-la em casa....
Assim foi, a garrafa esvaziou. Os sapatos que a deixam tão bela,, ela os calçou ...
A caminhada agora ficara mais fácil e ele cantarolava a bela canção.
Entraram na casa, na sua antiga casa, agora, era só a morada dela. Observou tudo, e sentiu saudades... as fotos da ultima viagem ... seus livros... oh! seus óculos, no mesmo canto da cabeceira da cama... seu lado da cama ainda intacto ... quantas lembranças... ele a acomodou na cama.... resolveu usar os últimos instantes ao lado dela... como antes ... e ouvia ela sussurrando seu nome... " Marcel...Marcel ..."... Rolaram duas lágrimas dos olhos de Marcel... era hora de partir... ela ficaria bem .. deixou uma rosa ... acompanhado pelos amigos, partiu ....
O romper do dia, trouxe a ela vagas lembranças, mas, a saudade era a mais forte... tentou levantar, olhou ao lado da cama vazia...definitivamente ele não estaria nunca mais ali ...mas,aquela rosa !que magnifica ... abraçou com cuidado e agradeceu ainda assim a visita de Marcel ... disse que o amava, que seguiria amando, nesta e noutra vida.... chorava, mas, percebeu que Marcel não havia morrido, só uma viagem... uma longa viagem ...
Sentou-se atônita na cama, ouviu a canção.
Rezou.
E foi prá vida ... O mundo ainda aguardava.




