terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A Rosa não esquecida.

Ela ia solta pelas ruas.
Uma noite vazia, uma noite sem  nada.
Em uma das mãos a garrafa semi cheia...boa bebida...  perdera o copo durante a caminhada solitária, em outra mão os sapatos... "como ficam belos em suas pernas" lembrou ela... mas, agora ela andava descalça... a esmo ...  Mais um farto gole pra seguir sem destino ...
E ela ia solta pelas ruas...mal iluminada.. não sabia como havia parado ali , e a quem importa??Andava com seus passos trôpegos... para quê agora a elegância? Não há mais platéia... e ele, ele se foi .... ergue a garrafa ao céu e brinda: " a você Deus !! obrigada por tê-lo levado!!!" ...
Queria chorar ... cantarolava  aquela canção... a mesma que quando o conheceu... naquela praça, naquela primavera, naquele ano, naquele dia... Fecha os olhos... sente-se meio tonta,é a bebida ... não é a morte... " " ah! que maravilha ir agora...."... ainda em pé, permanece com os olhos fechados... não querendo esquecê-lo ... abir os olhos... tudo rodava, tudo girava ...
E ela seguiu solta pelas ruas solitárias.... prá onde iria? Em qual braço ela choraria? Não pensava em ninguém ... obcecada só ele, ele, ele e ele... " Meu amado"...
Ao longe, mesmo sem que ela percebesse, seu amado amparava cada passo de sua amada, e guiava para casa.
Mesmo desencarnado... a energia de sua amada era muito densa... buscou auxilio ... a ideia do suicídio dela era muito forte  e ele sofria por isso....
A cada gole que sua amada ingeria ele plasmava água, e pouco a pouco, ela foi sentando  na beira da calçada e acalmando.
Ele ficou frente a ela... ela não o percebia.
Ele tocou o seu rosto, ela não sentiu.
Ele a abraçou, forte, e ela não sentiu ...
Sensibilizou  com a aparência de sua amada. Não era ela,  e podia ver de longe  as nuvens negras prontas para apoderar dela...
Pouco a pouco ela foi se recobrando, e o tempo dele estava acabando, precisava partir , mas, antes, deixá-la em casa....
Assim foi, a garrafa esvaziou. Os sapatos que a deixam tão bela,, ela os calçou ...
A caminhada agora ficara mais fácil e ele cantarolava a bela canção. 
Entraram na casa, na sua antiga casa, agora, era só a morada dela. Observou tudo, e sentiu saudades... as fotos da ultima viagem ... seus livros... oh! seus óculos, no mesmo canto da cabeceira da cama... seu lado da cama ainda intacto ... quantas lembranças... ele a acomodou na cama.... resolveu usar os últimos instantes ao lado dela... como antes ... e ouvia ela sussurrando seu nome... " Marcel...Marcel ..."... Rolaram duas lágrimas dos olhos de Marcel... era hora de partir... ela ficaria bem ..  deixou uma rosa ... acompanhado pelos amigos, partiu ....
O romper do dia, trouxe a ela vagas lembranças, mas, a saudade era a mais forte... tentou levantar, olhou ao  lado da cama vazia...definitivamente ele não estaria nunca mais ali ...mas,aquela rosa !que magnifica ... abraçou com cuidado e agradeceu ainda assim a visita  de Marcel ... disse que o amava, que seguiria amando, nesta e noutra vida.... chorava, mas, percebeu que Marcel não havia morrido, só uma viagem... uma longa viagem ...
Sentou-se atônita na cama, ouviu a canção.
Rezou.
E foi prá vida ... O mundo ainda aguardava.





quarta-feira, 8 de junho de 2016

Vida que se segue

Como sem mais nem porque, ele acordou. Estirado num gramado tão verde sob o céu azul, impossível não acreditar que estava vivo. Faltava-lhe o ar, mas, estava acordado. Sob aquele manto azul, entendia que logo iria ser noite…sentou-se escorando num tronco de árvore velho e seco, a cada vez que aproximava ao tronco, ouvia o estalar daquela casca velha.  Cabeça tão vazia, cabeça tão limpa... ele se percebeu só.
Não ficou ali por muito tempo e se pôs andar, lembrou do seu redor, e não estranhou tudo aquilo: o rio, as árvores, o gramado, a brisa leve e ao mesmo tempo quente... Continuou ... Ele e ele. Ao longe ouve uma melodia... todo seu corpo reage aquela doce melodia... e por instantes, para como uma estátua....  “ Conheço essa música...ah!!!” E seu corpo treme e dança...uma dança quieta, uma dança de dois, não de um.... A melodia entra em seus ouvidos, arrepiando seu corpo, inquietando suas pernas e braços.... E dança... uma dança tímida... olhos fechados... parado... em seu momento único ele a vê...ali, a sua frente... cabelos negros, braços cobertos por um lenço de seda...seda vermelho...ainda que ela dance em sua frente, ele segue paralisado sem mais nem por que...a melodia ganha aquele prado...
Subitamente abre os olhos. Ela não está ali. A melodia sim.  Já é noite. Caminha até o rio... calmo, e entre as copas não percebe que há uma lua. Lua de prata... e casa com o som da doce melodia... ele conhece a melodia, de onde? Encosta em uma árvore e espera.
“Será que ela virá? ” – Pensa..., “ mas ... quem virá???” – Pergunta a ele mesmo...  “Será que ela me esqueceu??”... “Ela virá...” afirma a si mesmo ... um diálogo entre ele mesmo o deixa aflito, pois não sabia de fato o que estava fazendo ali, e quem era ELA? Um apelo e uma agonia tomam conta e a confusão do momento não permite mais o diálogo. Sem perguntas, sacode a cabeça, tenta afastar todo aquele embaraço, não basta exatamente nada o que vê ao seu redor é tudo muito surreal...onde ele estava afinal?
Encostado a árvore irrita-se com música …precisava saber de onde vinha... quem era o músico... e, o peito aberto resolver dar passos duros até a música... sem medo, talvez o desafio daquela melodia era o que fizera chegar ali... entre trilhas iluminadas pela lua, margeando o rio ele quase esquece o propósito... agora caminha devagar e um perfume adocicado invade seu caminho. Como um cão de caça, ele para respira o aroma. Fecha os olhos, e finalmente se rende... ao perfume... a música... ao luar... um mundo de saudades invade seu peito... uma tristeza enche seus olhos de lágrimas... é só sofrimento... de repente, sente em seu rosto um pesar de mãos... mãos envolvem seu rosto como uma máscara, mãos suaves e conhecidas... sem temer, ele toca...” ah! Ela voltou! ” ...desliza suas mãos naquelas mãos, chegando ao pulso... reconhece as pulseiras, reconhece o anel...  E noutra mão reconhece...reconhece a aliança... abre os olhos... e se vira para ela... “oh! Minha amada! Quantas saudades...” lamenta o pobre homem... “Meu amado... não sofras... não sofras mais…”...” Impossível... desejo a morte todos os dias, desde o dia que se foi... impossível tê-la de volta! Quão triste e vazio é meu mundo...”. Seguia o diálogo do casal apaixonado, separado, mas, apaixonado. “Onde estou!? Como vim parar aqui?? O que fazes aqui???” – Dizia o homem, acariciando nervosamente a mulher, ora os cabelos, ora o rosto... e para cada palavra, cada intervalo, beijos, beijos na face, beijos na boca, beijos nas mãos... – “o que fazes aqui? Como vim parar aqui!???”, finalmente agarra o rosto da mulher e fita... “como? Como? ”.
Nebulosamente o sentimento de saudades que tomava contava daquele casal, agora é substituído pela alegria do reencontro. A música, a lua, tudo estava perfeito. Tudo fora de fato, presente de Deus e para ele somente bastava olhar uma vez mais antes do adeus...Tudo que vivera anos agora, sentia outra vez... A amava sim, e cada vez mais amava mais.
Ajoelham próximo ao rio, e como antes, ela acaricia seus cabelos e por segundos, contemplam a paisagem e o silêncio se rompe... “ há muito mistérios, nada sabemos de nós, sequer sabemos se voltaremos a nos ver, o que perpetua é esse nosso amor. É preciso seguir. Imploraste por esse encontro, precisei prometer que esse seria nosso último encontro, que não mais me verias. Onde estou rezo por ti, emano vibrações para o seu dia a dia, segue tua vida, é temporário nossa separação. Cuide de você. Não atrase o curso das coisas, prometemos aceitar as condições. Nossas vidas estarão para sempre entrelaçadas...para sempre. Terás sempre meu eterno amor, mas, preciso seguir. Você precisa seguir. Não se entristeça, não se revolte, agradeça ao Pai pelo nosso encontro, mas, meu amado, é preciso seguir…”, e não olhar frio, ele a fita na menção de interromper, e ela delicadamente toca seus lábios com o lenço.... “ Não... não faça isso...você aceitou...eu também”...
E ele se cala. E relembra o adeus. Relembra de tudo que ficou sem ela. Permanece de olhos fechados, queria tudo daquele encontro, o seu perfume, o som de sua voz... e a música... essa música... que não para de tocar... respira fundo, aceita novamente   o juramento, sabe que não irá cumprir. Abre os olhos e a vê, e sabe que pela última vez de sua existência, nunca mais seus abraços, seus beijos, nunca mais sua voz... nunca mais ela...permanece estático, querendo chorar, gritar, mas, aquele abraço...confortava a dor. Ela estava indo. Estava novamente partindo, tal qual como prometeu: nada faria para impedir, aceitaria. Vez ou outra cerrava os olhos não querendo ver a cena do outro adeus. E assim foi, mansamente ela dissipando ante seus olhos, e simultaneamente dentro de seu peito, o coração parecendo explodir. Já conhecia aquela dor, pediu a mesma morte...a última imagem o sorriso breve e calmo de sua amada…Ainda de olhos abertos ele chorou e tocou o vazio. Ela de fato havia partido. Ela o deixou. Como antes, ajoelhou e chorou por muito tempo.
O telefone tocou.   Confuso ele despertou... “alô?? alô???” Enquanto espera, ele olha a janela, e com o dedo indicador afasta a cortina e curiosamente um carro estacionado em frente a sua janela, um casal esperando o farol abrir, o motorista aumenta a música…aquela música.... Hipnoticamente relembra de tudo, e do juramento... olha para o céu azul e num riso triste diz:
- Seguirei sem você. Estou bem. Estou em paz.



segunda-feira, 6 de junho de 2016

CORRE GIRA

Um dia você vai até um terreiro de Umbanda.
Fica ali, sentado  na assistência.
O rito começa. Ai, você fica entorpecido com o cheiro da defumação, confessa, você até fica envergonhado, por que todos ali estão em único coro... " corre gira Pai Ogum...filhos quer se defumar..."...ouve o Hino da Umbanda... ah! que lindo... abre-se as cortinas, e você vislumbra o Congá, o Altar...enfim, lá em cima, em uma prateleira  Jesus Cristo, com uma pose bem familiar: abençoando... é Oxalá alí... e abençoa igual, e você entende... você sequer presta a atenção em todo desenrolar da " sessão", só percebe um pessoal com " cara boa", com cara de " felicidade!!", a defumação agora invade todo ambiente, inclusive você vai sair dali e vai levar aquele cheirinho gostoso de ervas...  " incrível!!! - pensa você, porque não vim antes??", repara que todos estão descalços, deitam defronte ao  altar,ao congá, depois, cada um ( filhos você sabe depois), trocam abraços, trocam olhares, e fazem um grande circulo.... começam a girar... a cantar, a bater palmas... é fantástico... é lindo! você não sabe o que é, mas, dentro de você uma coisa pulsa... " será algo ruim? será o que???" Você não sabe. Num outro canto, ali, bem a esquerda de seus olhos, os tambores... sim, os atabaques, um batimento, um soar de não sei o que, e você se deixa levar... é a magia da   Umbanda.
Você senta. Espera ansioso por sua vez, aquilo tudo é um espetáculo, e em seu banco surrado, você fita  imagem de Pai Oxalá -Jesus Cristo... vagueia em pensamentos... esqueceu o que foi fazer ali. Não se lembra. Você está em paz. Sentiu, ao menos por instantes a paz... ah! frágil paz, mas, você sentiu... " preciso voltar mais..." Sua vez chegou.... frio no estomago.... o que vou dizer? - o que vou pedir? você entra no " cantinho mágico" e fica zonzo, meio tonto... parece que não é você, mas,  é você,  o arrepio chega até suas costas sem permissão... Medo. Alivio.Estranho. Zonzeia. Mas, se segura.... afinal, primeira vez... nada de vexames... " o que há comigo??- pensa de maneira rápida e sabe que nao tem respostas, o que há  comigo?".
Fica defronte aquele moço. Magro. Frágil, sentando num banquinho de madeira, calças levantadas até a canela, você olha aquela imagem e não entende, um jovem com aquela voz ... uma voz... voz de velho, falando tudo errado, como um caipira... você olha naquele rosto, nunca viu,não sabe sequer o nome dele e enquanto isso, a mao do moço magro, solta no ar... esperando seu toque... " Deus te abençoe fio... ispantadu ?suncê  num ná cum medo né zifio?"  E espantosamente você não fala. Não diz nada. É invadido por outra sensação, nunca saberá explicar, só quem sentir aquele toque entenderá, e então, sem mais nem porque, você se deixa levar...Você fala da vida, de flores, dos medos, de dinheiro, fala do chefe que não entende  o quanto você se dedica, fala da vida difícil de levar o pão pra casa, reclama sim, afinal, aquele moço perguntou... logo, você deslanche um  fio de queixas... entre frases de queixas e outras, o tal moço leva o cachimbo a boca, e intercala com um café ... você até bebe um pouco, mas, pela primeira vez alguém quer lhe ouvir, café bebe depois e você continua com  suas queixas. A zonzeira se foi, você se percebe, você olha pras suas mãos, seus dedos, a calça ainda com vinco, as unhas de seus pés sempre fora bem desenhada, percebe de repente o cheiro da sua camisa, mesmo suada depois de um longo dia de trabalho, você se percebe... percebe até o tum tum de seu coração... estranho... tudo é silencio ao seu redor... o moço finalmente conclui: " Fio...suncê tem saude, e boi bão, é minino de luta...suncê tem qui acarmá o coração, a cabeça du fio faz tudo correndu e o coração bate junto, fio, suncê num si isqueça que Pai Oxalá cuida dus fio, mas, si os fio num pará a cabeça num vai funcioná, suncê bota pra respirá esse seu coração,pruquê fio, suncê tem saude,suncê tem tabaio e  agradeça a Pai Oxalá sua vida fio.... acalma a cabeça...óia as arvres, óia o céu...suncê é criatura do Pai....suncê num é merecedô de sufrimento...suncê num sofre, suncê tá com as coiseras da vida.Vivê num é só isso fio..suncê oiou sua mãos, seus pé,suncê ouviu o coração...suncê ouviu seu espritu fio???"  Você percebe seu propósito ali. Em frente aquele congá, aquele cheiro de ervas, você sentiu seu espirito,  ali você encontrou a magia da Umbanda, que fora a paz de espírito, a certeza que além da vida do dia a dia, há  a saude espiritual, e fatalmente logo logo essa padeceria... você sabe que aquele encontro nao irá resolver todos os problemas , mas, algo dentro de você mudou... nao sabe bem oque...uma vitalidade, um entusiamo, um novo " eu" nasceu... se você teve sorte? isso você nunca saberá, mas, só quem encontra um Preto Velho é tocado pela energia branda e apaziguadora: sempre haverá um amanhã. O abraço de despedida não foi uma despedida, o olhar daquele moço não foi um olhar em vão.
Você voltará.
Você deve voltar.
Você volta pro seu canto, ali na assistência, e só tem olhar  prá todo lugar. Tudo agora ficou familiarizado, tudo agora ficou acolhedor. Só quem viveu entende o que você sentiu.
Adorê as Almas, e Almas me atenderam!!!... (e você nem pediu....).





terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Acabou. Cativeiro acabou.


O sol já ia bem forte. Era preciso correr, sempre, sem olhar pra trás. Não havia esperança alguma naquela fuga, mas, era importante fugir, sem rumo. E ele ia. Seguia. Sempre olhando prá trás, sabia que não o alcançariam, mas, ainda assim corria. Estava sem rumo, sem direção. De repente o desespero tomou conta de todo seu ser, mas, foi preciso, ele se convencia que tinha agido certo. Não hesitou. Não teve medo, faria tudo de novo, pensou, e por causa desses pensamentos foi acalmando a alma. A alma na verdade nunca sossegou. Nunca aquietava, ouvia sempre os conselhos dos Velhos: “se acalma fio...” nunca! Nunca se acalmou. Lembrou dos Velhos.... Olhou pro céu, nada ao seu redor, sol quente, lembrou de si, olhou pra suas mãos e ainda havia sangue, não gostara do que vira, mas, era real. Suas costas ardiam, não sabia ao certo se era pelo calor do sol ou por alguma ferida, não importa, iria seguir assim. Calmamente acarinhou seu cavalo e lembrou que era preciso parar. Como? Onde? Sem segurança. Onde? Pelo menos pelo bicho ele teria que parar. Meteu em agonia, temia por ele, não poderia parar. A agonia crescia, gritou “ Pataaacoriiiiiiiiiiiiiiiiiii Meu Paaaaaaaaaaaaaaai!!!” – o bicho parou. Os dois ouviam agora o eco do seu grito... O bicho parou defronte a uma palmeira. Não estava ali antes, as folhas pareciam mariô... Insistiu, o animal não obedeceu. Não iria obedecer. Olhou em seus ombros, sua camisa agora era puro farrapo, as costas ainda ardiam. Latente. Parado só poderia então descer. Verificar. Tirou os farrapos das costas e secou o suor que caia do rosto negro. Limpou o que pode do sangue das mãos, segurou sua única arma, um punhal e o levou a boca. Mãos livres, pensou, cerrou os dentes e mordia o punhal. Desceu e fez um gesto pro cavalo esperar. Caminhou até a palmeira. Ficaram frente a frente, como dois seres, não sabia ao certo o que estava ali. Olhou novamente ao seu redor. Nada ouvia, nada via, Estranho. Desafiou o não sei o que, e fincou o punhal na terra, respirou fundo e se fez posição de ataque. Esperou pelo o “não sei o que”, as folhas da palmeira balançaram com uma suave brisa, quente é verdade, mas, suave, olhou de rabo de olho pro cavalo, este estava ajoelhado. Um arrepio cobriu as costas, não ardia mais... O que seria, e sem saber por que estava em um frenesi: queria sair daquele estado, poderia ser feitiçaria, mas, era bom, era calmo, fazia bem e não resistiu se rendeu a aquela sensação. Ele e o cavalo. Por um instante ele tentou lutar, e sem saber por que seus punhos fecharam, uma força descomunal tomou conta de seus ombros e pernas, e ele ali, ajoelhou tal qual como o cavalo, e ele ali, foi forçado a ajoelhar e assim o fez. Obedeceu aquela sensação mágica e poderosa. Tal qual como veio, foi. Levantou do suposto susto, olhou ao seu redor, o cavalo já em pé como a espera da hora em seguir, olhou ao redor, o sol ainda forte, olhou pras mãos, e lembrou do punha que havia fincado na terra, estava ainda no chão,mas,não fincado, apontava a sua frente, depois desta visão, deu um pulo e o arrepio ficou mais forte, tão rápido, pegou o punhal subiu no cavalo e seguiu a “ orientação” do punhal. Guardou a sua arma e seguiram sem saber pra onde. Do alto do morro agora, avistou a aldeia, e desconfiado aproximaram, podiam ouvir de longe o som dos tambores, descia o cavalo calmamente, tocou o seu punhal prá certificar que ele estava de maneira fácil. Aproximava. Todos olhavam pra eles como se ele fosse uma aparição. O som dos tambores era mais alto, mais forte, ele não estava em si, isso ele tinha certeza e quando deu por si já estava ali. No centro da aldeia sendo abraçado... Um negro velho veio até ele, e num abraço sussurrou palavras de agradecimento, abraçava forte elegendo-o herói, o Negro Jovem fechava os olhos e lembrava da luta terrível que travara antes de estar ali: matou muitos, era preciso, sentia ainda o cheiro de sangue , os gritos, mas, foi preciso, e dizia pra si mesmo “ faria tudo denovo...” Agora ele suspira, olha ao seu redor.... Seu cavalo bebe água e a ele a sensação de fim. Fim de batalha, mas ele sabe que para um Filho de Ogum a luta nunca termina, certificou que todos estavam livres, sentou-se num toco de madeira, levou as mãos sujas de sangue, agora seco na face negra e chorou. Valeu a Pena. Ogunhê Meu Pai!!!! Nunca mais os seus seriam cativos. 







Do pó viemos, ao pó voltaremos ...


Nanã Buruquê. Nanã Buruku. - " Do pó viemos, ao pó voltaremos" - um ditado que cai bem  aos filhos de Nanã,ou , um ditado que a  autoria deve ( deveria) vir de Nanã.
Nanã é o Orixá mais velho.É a mãe, a avó. Apaixonada por Oxalá. É a Deusa dos mistérios, da feitiçaria. Ela acalanta. Impõe. Organiza. Limpa. Fala mansa. Fala rouca. É a Senhora  respeitada dentro do clã dos Orixás. Ela é o principio e o fim. A morte e a vida. Um Orixá cultuado  pelos Africanos e trazida pra cá ( Brasil) e com esse transporte  de " tradição" muita coisa se perdeu, Nanã também é conhecida como a Senhora da fecundidade e da riqueza e para os Povos Jeje - região  do antigo Daomé ( que significa Mãe)- Republica do Benin - Nanã é conhecida e até considerada como um Orixá masculino e divindade suprema.
Nanã sendo  a mais antiga das divindades ela tem como representação imediata  A MEMORIA DE NOSSOS ANCESTRAIS, é a mãe de Obaluaê, Oxumaré.
Querer entender  esse Orixá, seria  importante " abrir" a mente ao longo da historia do homem, onde,vivíamos ( e vivemos)  em conflito, em um frenesi entre a vida e a  morte. Onde não somos "donos"de nosso amanhã, e que com passar do tempo, carecemos de alento para nossas dores. 
A morte nos leva  a ter, a especular nossas emoções religiosas: o   mistério da morte. Era de fato comum,enterrar os mortos em posição de feto, e isso nos remeteu a conhecer que a morte e a vida caminham  juntas, e o frenesi  pelo medo da morte é ai  que está Nanã, preparando para um novo estagio, nos  lembrando que nada somos diante dos olhos do Pai. Essa angustia, essa dor,esse peso da partida só está ligado aqueles que em vida, propagam o apego da nossa passagem. Esses sentimentos é a rota de fuga para nos depreciarmos com nossa existência. Viver, para Nanã é abraçar a vida , ainda que tenhamos que lutar no dia a dia. Para os Filhos de Nanã, um novo dia é um novo viver .Não há  um dia para esses filhos que não seja único. Nanã é luz que nos guia....Ela é Nossa Vida.
Curiosidade, uma das  lendas de Nanã:
Nanã  era a Rainha de um povo e tinha  poder sobre os mortos. 
Para roubar tal poder, Oxalá casou com ela mas, ele não ligava muito prá ela, então, inconformada, Nanã fez um feitiço para ter um filho e tudo acontece exato como ela quer mas, por causa do feitiço o seu filho ( Omolu) nasce deformado e horrorizada, Nanã joga a criança  ao  mar para que morresse . Pela crueldade, Nanã engravida novamente, dessa vez, daria a luz a um filho lindo mas, que ficaria afastado dela e correria o mundo, e assim foi feito: Nasce Oxumaré que,  durante 6 meses vive no céu como um arco iris, e os outros 6 meses vive na terra , como uma cobra, arrastando pelo chão.
Data de Comemoração:  26 de julho, Saudação: Saluba Nanã( dona do pote da Terra), Sincretismo Religioso: Nossa Senhora Sant'Ana.
Saluba Nanã!!!!!!