terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Acabou. Cativeiro acabou.


O sol já ia bem forte. Era preciso correr, sempre, sem olhar pra trás. Não havia esperança alguma naquela fuga, mas, era importante fugir, sem rumo. E ele ia. Seguia. Sempre olhando prá trás, sabia que não o alcançariam, mas, ainda assim corria. Estava sem rumo, sem direção. De repente o desespero tomou conta de todo seu ser, mas, foi preciso, ele se convencia que tinha agido certo. Não hesitou. Não teve medo, faria tudo de novo, pensou, e por causa desses pensamentos foi acalmando a alma. A alma na verdade nunca sossegou. Nunca aquietava, ouvia sempre os conselhos dos Velhos: “se acalma fio...” nunca! Nunca se acalmou. Lembrou dos Velhos.... Olhou pro céu, nada ao seu redor, sol quente, lembrou de si, olhou pra suas mãos e ainda havia sangue, não gostara do que vira, mas, era real. Suas costas ardiam, não sabia ao certo se era pelo calor do sol ou por alguma ferida, não importa, iria seguir assim. Calmamente acarinhou seu cavalo e lembrou que era preciso parar. Como? Onde? Sem segurança. Onde? Pelo menos pelo bicho ele teria que parar. Meteu em agonia, temia por ele, não poderia parar. A agonia crescia, gritou “ Pataaacoriiiiiiiiiiiiiiiiiii Meu Paaaaaaaaaaaaaaai!!!” – o bicho parou. Os dois ouviam agora o eco do seu grito... O bicho parou defronte a uma palmeira. Não estava ali antes, as folhas pareciam mariô... Insistiu, o animal não obedeceu. Não iria obedecer. Olhou em seus ombros, sua camisa agora era puro farrapo, as costas ainda ardiam. Latente. Parado só poderia então descer. Verificar. Tirou os farrapos das costas e secou o suor que caia do rosto negro. Limpou o que pode do sangue das mãos, segurou sua única arma, um punhal e o levou a boca. Mãos livres, pensou, cerrou os dentes e mordia o punhal. Desceu e fez um gesto pro cavalo esperar. Caminhou até a palmeira. Ficaram frente a frente, como dois seres, não sabia ao certo o que estava ali. Olhou novamente ao seu redor. Nada ouvia, nada via, Estranho. Desafiou o não sei o que, e fincou o punhal na terra, respirou fundo e se fez posição de ataque. Esperou pelo o “não sei o que”, as folhas da palmeira balançaram com uma suave brisa, quente é verdade, mas, suave, olhou de rabo de olho pro cavalo, este estava ajoelhado. Um arrepio cobriu as costas, não ardia mais... O que seria, e sem saber por que estava em um frenesi: queria sair daquele estado, poderia ser feitiçaria, mas, era bom, era calmo, fazia bem e não resistiu se rendeu a aquela sensação. Ele e o cavalo. Por um instante ele tentou lutar, e sem saber por que seus punhos fecharam, uma força descomunal tomou conta de seus ombros e pernas, e ele ali, ajoelhou tal qual como o cavalo, e ele ali, foi forçado a ajoelhar e assim o fez. Obedeceu aquela sensação mágica e poderosa. Tal qual como veio, foi. Levantou do suposto susto, olhou ao seu redor, o cavalo já em pé como a espera da hora em seguir, olhou ao redor, o sol ainda forte, olhou pras mãos, e lembrou do punha que havia fincado na terra, estava ainda no chão,mas,não fincado, apontava a sua frente, depois desta visão, deu um pulo e o arrepio ficou mais forte, tão rápido, pegou o punhal subiu no cavalo e seguiu a “ orientação” do punhal. Guardou a sua arma e seguiram sem saber pra onde. Do alto do morro agora, avistou a aldeia, e desconfiado aproximaram, podiam ouvir de longe o som dos tambores, descia o cavalo calmamente, tocou o seu punhal prá certificar que ele estava de maneira fácil. Aproximava. Todos olhavam pra eles como se ele fosse uma aparição. O som dos tambores era mais alto, mais forte, ele não estava em si, isso ele tinha certeza e quando deu por si já estava ali. No centro da aldeia sendo abraçado... Um negro velho veio até ele, e num abraço sussurrou palavras de agradecimento, abraçava forte elegendo-o herói, o Negro Jovem fechava os olhos e lembrava da luta terrível que travara antes de estar ali: matou muitos, era preciso, sentia ainda o cheiro de sangue , os gritos, mas, foi preciso, e dizia pra si mesmo “ faria tudo denovo...” Agora ele suspira, olha ao seu redor.... Seu cavalo bebe água e a ele a sensação de fim. Fim de batalha, mas ele sabe que para um Filho de Ogum a luta nunca termina, certificou que todos estavam livres, sentou-se num toco de madeira, levou as mãos sujas de sangue, agora seco na face negra e chorou. Valeu a Pena. Ogunhê Meu Pai!!!! Nunca mais os seus seriam cativos. 







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