Por diversas vezes ela pensara em
fugir. Para dentro de si, ou até mesmo ao fundo de um oceano longínquo, mas,
ela estava cansada. Queria fugir. Talvez não queria mais viver, nem ela mais saberia
o que sentia ali, dentro do peito, dentro da alma.
Vez ou outra olhava a janela, e
observa o mundo, e a falta dele ela maior que aquele mundo. Ela sabia que
precisava seguir, ainda contra vontade.
Rezava. Falava com Deus, chorava
com a solidão, mas, ela estava só.
Escondia tudo dele dentro dela,
dentro do coração. Antes que o coração palpitasse, já estava lá a imagem dele
... como um Semideus ... estava presa ao passado, encarcerada a separação
repentina, e desfazendo dia após dia, desmanchava aquele amor.
As vezes era comum ela falar com
ele, dele, pra ele ... Mas, subitamente, percebia que era tolice... a separação
levara o maior pedaço dela: a vida, por isso, ela penava em fugir, não poderia
ir ao encontro dele, não sabia por onde ele andaria naquele universo ingrato e
frio. Cansou de não se mais ela.
Cansou de estar só.
Cansou de busca-lo em outras bocas...
outros corpos... era como uma traição ...
Por isso, ela estava ali, frente
aquele mar nesse dia frio ... foi ali que tudo começou .... A conchinha que a
onda trouxe e rolou até seus pés miúdos... e ele, como era um tanto curioso,
perseguia aquela conchinha, “ uma forma perfeita! Permita-me? Levante seus pés,
antes que a próxima onda a leve”... Ela sorriu e fez de suas mãos uma conchinha
e agarrou a “ forma perfeita” e entregou ao arqueólogo do mar .... A troca de mãos
pra forma perfeita não precisou de tantos cuidados assim, e ele em seguida guardou
num balde.... Olharam os dois e sorriram .... e seguiram por aquela praia fria ...os dois aspirantes a arqueólogos...
Ela hipnotizada ainda lembrava de
tudo. Nunca mais achou outra “ forma
perfeita” que guardava em seu peito em forma de pingente ....
Drasticamente ele se perdeu no
mar, numa viagem rotineira. O mar o levou. E ela ficou.
Estava cansada de viver sem ele.
Ouvira de várias pessoas que por onde ele estivesse, ele estava a olhar por
ela... ela ria... “ deve estar procurando por conchinhas.... Não por mim”...
Arrumou o lenço, aconchegou em
seu casaco, a onda que ia e vinha não a incomodava mais, continuou andando ....
de repente , distraída olhando o vasto mar e céu, fora interrompida.... “ Senhora!
Senhora! ... por favor... pare... !!” Ela olhou aquele jovenzinho, investigou
cada detalhe daquele rostinho ... “ oh! O balde... azul como ..como...” ... “ não
dê mais nenhum passo senhora, é uma conchinha que falta para minha coleção... e
a senhora está pisando nela... cuidado por favor...” – disse o rapazinho meio
encabulado e aflito ... Ela ente lágrimas
fez o mesmo movimento do passado:
fez uma concha em suas mãos, agarrou aquela concha e entregou ao mini
arqueólogo.... e ele agradeceu e pediu desculpas pela pressa... ficaram os dois ali, olhando... Para o rapaz, foi sorte uma
senhora respeitar suas buscas ...para ela, uma dádiva, mesmo que não fosse ele,
era ele de qualquer maneira...
Caminharam pela praia . A cada
passo ela olhava para trás, e reparava que as ondas apagavam suas pegadas ...
Seguiu.
Chorando.
Abandonando o passado.
Era dor, era alivio, era saudade,
mas, dessa vez, ele fez a partida... sem ela...
Para felicidade da vida, ela
segurava o balde .... Cheio de “ formas perfeitas”....

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